Embocadura: essa é uma preocupação de nove entre dez alunos de trompete, trombone, tuba e bombardino e todos que me acompanham no canal CCMUSICAL, lá no Youtube.
Esta preocupação gira em torno em não conseguir uma boa vibração labial, em outras palavras, em “como fazer a embocadura perfeita”.
Você também tem essa preocupação?
É, mas apesar dos inúmeros tutoriais sobre o assunto publicados aqui na internet, fica difícil discernir quais desses conteúdos podem ser levados à sério ou qual deles vão ajudar a melhorar aquilo que é preciso.
E aí, o que fazer diante desse problema?
Neste artigo quero listar 3 tipos de embocadura que você nem sabia que existia. Isso pode ajudar você a compreender melhor o seu corpo, além de possibilitar um olhar diferente à própria técnica e fazer os ajustes necessários, afim do som perfeito.
O QUE É EMBOCADURA E O QUE SE ESPERA DELA
Apesar dos instrumentos de sopro terem este nome – SOPRO -, é a vibração dos lábios que produz o som do instrumento.
O trompete, por exemplo, serve como uma espécie de amplificador dessa vibração.
Para vibrar, primeiro os lábios devem estar encostados, assim como ao pronunciar a letra “M”. Os lábios também devem estar úmidos. Depois a mandíbula caí e o bocal é colocado sobre os lábios cerrados. A vibração só acontece quando a coluna de ar tenta sair pela boca.
Existem várias razões para a embocadura se configurar dessa maneira.
Os lábios úmidos criam tensão superficial que facilita o posicionamento do bocal. Essa peça pode ser colocada no centro dos lábios ou mais acima ou mais abaixo. O que não pode ocorrer é empurrá-la contra a boca, gerando pressão labial desnecessária.
Essa pressão e a essa falta de umidade afastam os lábios, e como resultado o som diminui seu alcance, causando um som pobre e fino, uma técnica lenta, resistência reduzida e, em geral, uma carreira encurtada.
Por outro lado, o que se espera de uma embocadura eficiente são:
- Um som bonito e afinado;
- Uma boa resistência;
- Um bom alcance;
- E equilíbrio entre a tensão da embocadura e o fluxo de ar.
O professor e trompista Philip Farkas, no seu famoso livro “A arte de tocar metais”, classifica 3 tipos de embocadura que, certamente, você nem sabia que existiam.
EMBOCADURA SORRISO
Como o nome já sugere, a embocadura sorriso é caracterizada pelo alongamento dos lábios, formando assim um sorriso.
Essa técnica não é nem um pouco vantajosa. Pelo contrário, o som produzido pelos lábios “finos” é:
- Fraco e duro;
- Tem o alcance reduzido;
- Cansa rápido, ou seja, muito pouca resistência;
- Pode causar danos graves nos lábios;
- A dinâmica fica limitada;
- Faz pressão desnecessária do bocal para se tocar os agudos.
Por essa razão é que inúmeros professores estão deixando de ensinar aos seus alunos esta técnica, ao ponto dela desaparecer por completo.
EMBOCADURA ENRUGADO
Quero que você faça um teste rápido aqui comigo: finja que está soprando um prato de sopa bem quente. Esta é a embocadura enrugada.
É também conhecida como embocadura do assobio, lá nos Estados Unidos. Isso porque eles vêem algumas semelhanças entre o ato de assobiar e a de tocar trompete.
Há uma lógica bem simples neste conceito: se por um lado a embocadura sorriso afina os lábios, deixando pouca “carne” para vibrar e proteger os dentes da pressão do bocal, por outro lado, a embocadura enrugado conta com uma super almofada.
Por esta razão, esta técnica possibilita maior alcance e resistência ao tocar, além das notas agudas ficarem mais encorpadas.
Mas esta técnica também tem lá as suas desvantagens. “À medida que você aumenta a pressão, a abertura pela qual o ar passa para o bocal tende a diminuir de tamanho e, eventualmente, fecha, interrompendo a vibração”. (Chidester, 2018)
Embora seja o completo oposto da embocadura anterior, ela já caiu em desuso, sendo apenas defendida pelo grande mestre Louis Maggio e seus discípulos.
EMBOCADURA SORRISO ENRUGADO
É a combinação entre as embocaduras sorriso e enrugado. De fato ela é a ideal, ensinada pela maioria esmagadora dos professores da atualidade e usada pelos instrumentistas profissionais.
Aliás eu já falei um pouco dela para você no tópico “o que é o que se espera”.
No livro “The art of french horn playing”, o professor Farkas chama atenção para um cuidado na hora da respiração. Para ele
“Muitos músicos inspiram e movem o bocal dos lábios. Esta atitude pode ser benéfica na medida em que possibilita um pequeno descanso, mas pode também modificar a forma da embocadura”.
A solução é manter o bocal constantemente apoiado sobre os lábios e inspirar pelos cantos da boca. Uma inspiração profunda e rápida o suficiente a tempo de restaurar o formato da embocadura, antes mesmo do ataque da próxima nota.
Do contrário, caso os lábios ainda não estejam firmes, o som sai inseguro. Caso os lábios fiquem tensos demais, o som sai duro.
BÔNUS – A TÉCNICA DA PRESSÃO
O professor Angelino Bozzini, em seu livro “A arte do sopro”, apresenta um tipo de embocadura muito comum aqui no Brasil. É chamada de “técnica da pressão”.
Segundo o professor, é uma técnica muito simples e bastante intuitiva, usada por alunos autodidatas e por quem teve seu aprendizado em grupos coletivos de música como bandas e fanfarras.
O som é obtido através da forte pressão do bocal contra os lábios e dentes. Nas notas graves, é aplicada pouca pressão sobre a boca. Já nas notas mais agudas, a pressão exercida sobre a embocadura é muito maior.
Se você já acabou algum ensaio com a boca toda marcada pelo bocal, certamente esta é a sua técnica.
Mas aqui mora um grande perigo. E é por isso que resolvi acrescentá-la como bônus para você.
Os dois braços que seguram o trompete empurram o bocal para dentro da boca. Essa pressão marca os lábios e, consequentemente, força a arcada dentária. Como os músculos da boca são flexíveis, a marquinha some rapidamente.
Mas numa situação de constante estresse, a musculatura pode romper e, como resultado, provocar feridas e rachaduras, assim como fortes dores nos dentes.
Se por acaso esse é realmente o tipo de embocadura que você usa, peço que reveja e corrija imediatamente. É uma séria questão sobre a sua saúde bucal!
CONCLUSÃO
Ainda há muitas coisas para serem ditas. Pequenos detalhes ou ajustes finos que fazem toda a diferença na hora de tocar o instrumento.
Saber todos estes os tipos de embocadura que você nem sabia que existia, possibilita um olhar diferenciado sobre a sua própria técnica, corrigindo o que é inadequado e prejudicial a saúde e evoluindo aquilo que é bom para um som bonito e afinado.
Agora quero conversar com você, quais desses tipos de embocadura é a que você usa para tocar o seu instrumento? Deixe o seu comentário.
Eu toco há 5 anos ,e minha boca fica machucada por dentro,eu não uso aparelho,mais fica machucado no lábio de cima e no lábio de baixo oq eu faço?
Valeu Eduardo, muito interessante perceber que com a técnica correta o som arredonda. Obrigado