Os segredos da embocadura

Os segredos da embocadura que não contam pra você

Nesse artigo eu vou contar os segredos da embocadura que muitos tutoriais do Youtube não contaram para você.

São pequenos detalhes que passam despercebidos e, por essa razão, fazem muita diferença na hora de tocar. Especialmente à afinação, a sonoridade, flexibilidade das notas e pureza do som do instrumento de metal.

Muitos problemas relacionados a embocadura como cansaço, marcas excessivas nos lábios e sibilação das notas, por exemplo, podem ser resolvidos se você considerar tais detalhes.

Aqui não vou falar de cuidados com à saúde da pele ou da musculatura da boca, pelo contrário. Quero demonstrar toda a engenhosidade mecânica e anatômica do processo a embocadura.

A ideia é ajudar a você eliminar qualquer vício problemático que esteja travando a sua técnica sob o ponto de vista da anatomia humana.

Certamente, os segredos revelados aqui são validos para todos os que tocam qualquer instrumento de metal, não importando se é trompete, trombone, tuba, bombardino ou trompa.

Seja como for, se você caiu aqui para procurar respostas aos seus problemas, está no lugar certo!

Continue lendo até o fim e desvende os segredos da embocadura.

O que falam sobre embocadura

Os vídeos e os tutoriais aqui da internet explicam como fazer a vibração labial de modo eficiente.

Eles têm em comum o fato de concentrar a explicação sobre a vibração labial apenas na boca, como se somente ela fosse a única agente envolvida no processo da produção do som.

Em síntese é isso mesmo, como fazer os lábios vibrarem pela ação da coluna de ar que sai do pulmão.

E está tudo bem! Não tem nada de errado sobre isso.

Além de que, eu mesmo já tratei algumas vezes sobre o assunto no meu canal, lá do Youtube, ou aqui mesmo no blog. Você pode aprender clicando aqui, clicando aqui ou aqui também.

De fato, o que raramente esses conteúdos contam a você é que, além da coluna de ar e dos lábios, outros agentes como o maxilar, o queixo, os dentes e até mesmo a colocação do próprio bocal são imprescindíveis para a construção de uma embocadura perfeita.

A seguir, quero falar de cada um deles, individualmente. Bem como propor algumas práticas para melhorar a sua embocadura.

Mas antes de mais nada, é preciso revelar de onde saíram os “coelhos da cartola”.

Revelando os segredos

Com certeza, agora você deve estar se perguntando:

“Por que só agora os segredos serão revelados?”;
“Por que guardaram a tanto tempo isso da gente?”
“De qual cartola esse cara está tirando esses mistérios?”

Não faz muito tempo que eu descobri o que vou compartilhar com você porque algumas das minhas respostas às questões mais complexas sobre embocadura, feitas por vários dos meus alunos, se tornaram insuficientes e insatisfatórias.

Eu encontrei as respostas técnicas que tanto precisava depois que li o livro “A arte de tocar metais”, do professor Philip Farkas.

O professor Farkas foi o trompista principal da renomada Orquestra Sinfônica de Chicago. Seu livro é o resultado de sua vasta experiência como músico e professor e de sua pesquisa realizada com os seus colegas do naipe.

“A arte de tocar metais” é muito citado em textos acadêmicos, além de ser considerado o “tratado sobre a forma e o uso da embocadura do músico de metal”.

Os segredos do lábios úmidos

A função dos lábios é vibrar. Em outras palavras, vibrar para produzir o som através da embocadura.

Certamente, isso é óbvio e não é segredo pra ninguém!

Entretanto, o que ninguém diz a você é que os lábios têm a função de unir o “nosso corpo” ao instrumento. Primeiramente, vedando hermeticamente toda a boca, bem como o ponto de contato entre a boca e o bocal. Em segundo, não permitindo que o ar escape.

Assim sendo, se você ouvir um som sibilante enquanto toca, significa que o ar está escapando pelos seus lábios. Preste muita atenção nisso!

É muito importante lubrificar sempre a boca. Logo, uma boa passada de língua já resolve.

Há muitas vantagens em lubrificar os lábios:

  • Ajuda na vedação no ponto de contato entre bocal e boca;
  • Previne rachaduras e feridas;
  • Facilita o posicionamento exato do bocal, dando a sensação de encaixe perfeito; e
  • Desenvolve os músculos dos lábios, possibilitando o toque com maior flexibilidade e eficiência.

O segredo da abertura dos lábios

O formato e a abertura dos lábios também influenciam para a boa sonoridade do instrumento.

Sobre o formato ideal, eu já escrevi um texto aqui no blog e você pode ler clicando nesta palavra.

O zumbido da embocadura é produzido, basicamente, pela pequena abertura no centro dos lábios. O professor Farkas diz que essa abertura deve ser similar à forma da palheta de oboé.

Aqui mora um grande segredo:

Se de um lado essa abertura for muito achatada, o som tende ser apertado, duro, áspero e sibilante nas notas mais agudas (como se estivesse fritando bacon).

Do contrário, se a abertura abrir e passar do ponto, configurando um orifício circular ou muito arqueada, o som fica inexpressivo, gritado, obscuro e desafinado.

Faça essa experiência, toque uma nota confortável, mova o seu maxilar para cima ou para baixo, concentre-se na abertura dos lábios e perceba as sonoridades.

A altura do maxilar que oferecer um som puro e belo, certamente, mostrará a abertura ideal dos lábios, aquela das palhetas do oboé .

O segredo do maxilar

A função do maxilar é direcionar a coluna de ar.

Isso pode ser exemplificado com um teste muito simples: sopre e ponha sua mão logo à frente da boca. Observe o ponto onde o vento bate (ou não) na sua mão.

Agora, leve o maxilar para frente até que os dentes de baixo estejam avançados em relação aos de cima. Como consequência, você estará soprando o próprio nariz.

Ao contrário, recue o maxilar até que os dentes de baixo estejam atrás dos de cima. Me diga, você está soprando seu queixo?

Aqui mora o próximo grande segredo.

A lógica da coluna de ar é que ela saia em linha reta e, sem obstáculos, saia do pulmão para a boca, entrando no instrumento. Dessa maneira você produzirá um som forte, rico e livre.

Por esta razão, se o maxilar estiver muito recuado ou muito avançado, a coluna de ar desviará drasticamente do seu caminho.

O ideal é alinhar os dentes frontais, levando suavemente o maxilar para frente e deixá-lo cair depois disso. (sobre esse “cair” já vou discutir no próximo tópico).

Nesta posição, a coluna de ar é sempre jogada para frente e os dentes ainda servem de suporte dos lábios e do bocal.

O segredo do ângulo do bocal

Não vou discutir se o bocal deve ficar no meio dos lábios, dois terços acima ou dois terços abaixo.

No livro de Farkas esse assunto ganhou um capítulo separado só para ele.

O objetivo aqui é pensar na angulação ideal do bocal.

Existem várias razões para se considerá-la e podem ser exemplificadas pelas seguintes situações.

Situação 1

Se você toca o seu trompete muito inclinado para baixo, como se fosse um clarinete, significa que há um desalinhamento do seu maxilar, dentes e lábios.

Na verdade, você inclina o instrumento instintivamente para contrabalancear o desnível e equilibrar as tensões e pressões da embocadura.

Situação 2

Após passar longas horas tocando, você percebe os lábios com as marcas do bocal. Isso mais uma vez é o efeito causado pelo desalinhamento da embocadura, que distribui a pressão da peça de forma desigual sobre a boca .

Diante dessas situações problemas, Farkas apresenta três as razões para serem refletidas:

  • Primeiro, o bocal deve posicionar-se na mesma direção de que o ar está indo, ou seja, em linha reta;
  • Segundo, o ângulo certo irá distribuir igualmente a pressão do bocal sobre os lábios superior e inferior; e em
  • Terceiro, o bocal não deslizará nem para cima e nem para baixo quando estiver colocado em perpendicular sobre a boca.

Essas afirmações por si só já são valiosos segredos.

Conclusão

Eu acabei de revelar alguns segredos da embocadura que muitas vezes passam despercebidos em tutoriais da internet.

Tais segredos, na verdade, são detalhes técnicos, pequenos ajustes que apuram a sonoridade e a tocabilidade do instrumento de metal.

Experimente pô-los em prática.

Toque uma nota confortável e ouça o efeito que cada um dos segredos causa no som.

Como eu disse, experimente, brinque!

Não tente mudar subitamente a embocadura que você já sabe por essa que mostrei aqui.

Ao invés de te ajudar, vai te atrapalhar, na verdade.

Construa aos poucos a sua nova técnica.

Toque. Ouça. Ter uma escuta ativa é muito importante neste momento.

Os segredos da embocadura foram revelados para ajudar a você. Caso contrário, é melhor que fiquem guardados.

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