Sobre a polêmica do Bona

Há algumas semanas atrás, eu, propositadamente, quis promover, nas redes sociais, um debate a partir de uma provocação sobre o método musical mais prestigiado do Brasil: o Método de divisão musical de Pascoali Bona, ou simplesmente, BONA.

A postagem (ou a provocação) sugeria que o referido método fosse jogado fora. Sim, no lixo. Isso sob a alegação de que o Bona era ultrapassado e ineficiente, e que por conta dele, inúmeros alunos desistiram de estudar música, pois o seu uso não permitiria um contato direto com a prática instrumental, mas um tempo excessivo com as questões teóricas. Em tese, a discussão levantaria outros nomes de professores e métodos mais atuais e mais alinhados com as novas tendências da educação musical moderna que  poderiam substituir o Bona.

Mas não foi isso o que aconteceu. Pelo contrário, o que foi pensado como uma postagem que instigasse a reflexão dos leitores, acabou se tornando algo que os revoltou.

De fato, o Bona foi e é um método muito importante para a formação inúmeros excelentes músicos, maestros e professores brasileiros. É o método teórico mais vendido do Brasil e o mais baixado da rede, certamente. É o método mais “capilarizado”, pois conseguiu e consegue (até hoje) alcançar todos aqueles que querem tocar um instrumento musical, não importando qual canto do país esses alunos morem. É um método usado por muitos professores de música, pois eles mesmos aprenderam com o Bona, e como diz o velho ditado: “time que ganha não se mexe”. Tudo isso já demonstra a eficiência e a eficácia desse método teórico.

No entanto, não se pode negar que a educação (aqui significando o processo de ensino aprendizagem) mudou. Desde que a Educação se uniu a Psicologia e a outras ciências relacionadas ao estudo do conhecimento, inúmeros teóricos, pensadores, filósofos, psicólogos, pedagogos, cientistas buscam responder a pergunta: como é que o ser humano aprende?

Num âmbito geral, o americano John Dewey inaugurou o entendimento de que o ensino-aprendizagem parte da ação do aluno sobre o mundo que o cerca, isso já no fim do sec XIX. É aqui que nasce o método ativo de aprendizagem, pensamento que retumbou em todas as áreas  do conhecimento, desde as áreas desportivas até as da aprendizagem musical. Lev Vigotski e Jean Piaget formularam suas proposições independentemente, que no fim são tão interligadas. O 1º parte da ação da cultura sobre o sujeito, enquanto o 2º correlaciona o amadurecimento cognitivo com a ação do sujeito sobre o mundo. Ambos, de maneiras distintas, apontam a mesma direção: que o sujeito aprende somente quando ele mesmo explora o mundo.

Na Educação Musical Moderna, como dito anteriormente, bebe dessa fonte. Edgar Willems, Schinichi Suzuki, Zoltan Kodály, Èmile Jaques Dalcroze, Carl Orff, o nosso Villa-Lobos, Murray Schafer, Keith Swanwick, H. J. Koellreutter, todos eles foram influenciados pelas propostas do Método Ativo. É sobre este ponto de vista que o método Bona não se enquadra nas propostas da pedagogia moderna. O Bona é de um período anterior, de uma época em que o professor era o centro da aprendizagem e não o aluno. É da época que chamamos de ensino tradicional.

Dito isso, voltando ao debate e a polêmica em si, um contra argumento de inúmeros leitores (e que eu acho bem válido, por sinal)  é a de que o professor não sabe utilizar o Bona e, na verdade, é uma ferramenta que pode ser feito um uso criativo, pois é a didática do professor o fator primordial à aprendizagem do aluno. Outro contra argumento dá conta de dizer que o meu entendimento sobre os teóricos e educadores citados acima, bem como as suas proposições e relevância pedagógicas é distorcido ou esvaziado. (Mas se você pegar as publicações desses professores citados, o que você vai encontrar lá é exatamente o que descrevi: a influência do método ativo em suas maneiras de ensinar).

Mas no fim de tudo, o fato É QUE EU ERREI. Mesmo que EU esteja certo, EU ERREI. Errei, pois, não me fiz ser entendido. Errei na minha comunicação. Causei ruído ao invés de esclarecimento. O post foi ofensivo no seu gesto. Sugerir que algo tão importante para muitos músicos seja jogado fora (no lixo como mostrava a imagem do post) desvaloriza e desmotiva o leitor. Assim não há debate, assim não há reflexão, somente clickbait. Qual leitor quererá debater algo (mesmo que seja importante pra ele) sendo já “cancelado” de entrada? Nenhum, seguramente. Logo, errei!

Portanto, reconheço o meu erro e peço minhas sinceras desculpas para todos aqueles que, ao invés de se sentirem encorajados para trocar conhecimentos, se sentiram decepcionados e consternados diante da fatídica publicação.

Para você, peço-me DESCULPAS!

E para reparar o meu erro, quero propor fazer lives semanais sobre o Bona, que serão feitas lá no Facebook, onde foi o palco desse desastre comunicacional. Essa lives não serão para criticar, mas para estudar. Essas lives serão da minha prática do Bona. Toda semana estudarei uma página ou um conjunto de exercícios do livro. A ideia é estudar o método inteiro junto com o público. Não entenda isso como castigo para mim, mas um opotunidade de incentivo e estudo musical .

De todo modo, agradeço imensamente todos aqueles que leram e encontraram forças para comentarem o meu post, a fim de debater e expor as suas ideias e conhecimentos. Tenha certeza que eu Li TODOS OS COMENTÁRIOS e aprendi muito com eles!

Mais uma vez: DESCULPA-ME!

 

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