Um dos mais populares métodos de solfejo já publicado no Brasil é, sem dúvida, o método Bona. Ele ainda é muito usado no Brasil. Está presente em inúmeras instituições de ensino da música, assim como em bandas musicais de quarteis, igrejas e de coreto, fanfarras e corais, principalmente, de cidades pequenas, afastadas do grande centros culturais, onde novas informações não conseguem alcançar. Porém, apesar de sua tremenda popularidade, hoje este método como material de ensino está ultrapassado, obsoleto e ineficiente.
Não posso negar a sua importância do ponto de vista como fonte de informação musical, chegando nos lugares mais inóspito do Brasil. Muitas vezes o utilizam por só ter ele e por não conhecer outro método para substituir.
E é por não conhecer outros métodos, que o Bona é tão presente. A grande maioria dos professores de música do Brasil não tem graduação em licenciatura em Música, logo são músicos práticos que assim como aprenderam é assim como ensinam. Em outras palavras, reportam as suas próprias experiências como aluno para ensinar. É aqui que o Bona se torna ineficiente.
Uma prática comum do uso do método é o solfejo do nome das notas ritmicamente. O aluno solfeja o ritmo ao mesmo tempo que fala (não canta) os nomes das notas. Neste ponto o professor proíbe o aluno a tocar o seu instrumento, sob o argumento de aprender a “ler as notas primeiro”. E apenas isso, o Bona serve para fluência da decoreba das notas. É claro que, por outro lado, o aluno não quer ser fluente da leitura das notas, mas tocá-las, escutar seus sons, experimentá-las, vivenciá-las, botar a mão na massa! Vi muitos alunos desistirem da música depois de passar por essa tortura.
Outra coisa, o Bona é um método de 150 anos (mais ou menos), escrito em uma outra época da história da educação. Nesta época, a Educação era centrada no professor, ou seja, todo o conhecimento do aluno era vindo exclusivamente do professor. Tudo que o mestre falava era lei, sem abertura para reflexões e conclusões do aluno.
Depois dos estudos de Piaget, Vigotsky, Wallon e outros psicólogos, descobriu-se que a aprendizagem é um processo de experiência, vivência, de descobertas que o próprio aluno faz. É colocando a mão na massa, acertando, errando e consertando o erro que a aprendizagem realmente se dá. Piaget chama esse processo de ASSIMILAÇÃO e ACOMODAÇÃO. Assimilar um conceito novo e acomodar esse conhecimento no cérebro. E isso só acontece quando a prática acontece. Coisa que o Bona não dá abertura a fazer.
Mas, se por alguma razão, sua afetividade infantil ou orgulho bobo de adolescente não o deixar fazer tal atrocidade, caro leitor, e ainda insistir que o Bona é um método eficaz, eu o respeito, fazer o quê.
Tenho dois vídeos no meu canal sobre este assunto:
As gerações mais antigas passaram pelo Método BONA e é injusto desqualificá-lo. O problema está na forma de aplicação, onde a maioria das pessoas só o enxergam como um método de divisão, puro e simples, quando vai muito além disso. Eu, por exemplo, aprendi a identificar tonalidades maiores e menores nesse método, quando um dos meus professores “exigia” que eu solfejasse as lições e depois tocasse no meu instrumento, conduzindo-me à realização da análise melódica e harmônica de cada sessão – fazia com que eu compreendesse e vivenciasse o por quê de um “sol bemol” e não um “fá sustenido”, um “si sustenido” e não um “dó natural ” e assim por diante. Ah! Sem falar das apogiaturas, grupetos e mordentes, bem como o significado de cada andamento. As pessoas, antes de lançarem essas campanhas de desqualificação de método A ou método B, deviam melhor se informar, se reciclar e submeterem-se a uma auto crítica e quem sabe, questões até mais básicas que pensam dominar. Se forem assim tão capazes, poderiam escrever artigos científicos defendendo àquilo que acreditam – quem sabe pudessem merecer algum crédito?
Olá, tudo bem, Roberto.
Vamos lá. Esta é provocação exatamente para que nós músicos pudéssemos pensar e refletir sobre a nossa formação musical. Em 20 anos como educador musical, coleciono depoimentos de alunos que me relataram de terem desistidos de suas primeiras tentativas em aprender música. Isso porque, seus ex-professores utilizaram o Bona para ensinar e por conta do Bona desistiram. A utilização era triste: o aluno ficava um tempo estudando exclusivamente o método antes de tocar o instrumento que amavam. Esse uso é castrador: o cara quer tocar, mas no fim vai ler um método que pro aluno não faz sentido.
Pelo o que você relata, seu professor fazia de um jeito diferente, ao que parece.
Minha provocação leva para algumas direções, entre elas buscar conhecer outros métodos mais atuais e muito bons, por sinal. Acho que isso é ato para reflexão, se informar, autocrítica e de reciclagem.
Para terminar, um artigo científicos são embasados por publicações de outros estudiosos, cientistas, teóricos, pessoas que dedicam a estudar sobre o assunto. Este texto não tem a pretensão de ser científico na sua formatação, mas com certeza é embasado por pensadores que apontam outros caminhos para educação musical. Se isto não ficou claro no texto, com certeza ficou claro nos vídeos.
Obrigado por sua participação, é muito legal debater sobre música!
Um forte abraço.
Opa!
Concordo meu amigo!
Não é ”jogando fora” que se transformam as coisas!
Não é queimando-se tudo que se terá um futuro sem passado.
Parece muito uma atitude ”burguesa” , própria de quem vê as coisas sempre assim, destruindo para esquecer e ”construir” algo supostamente novo.
Num mundo onde ”não é” por causa do método citado aqui que não se aprende música de maneira musical e criativa, mas sim porque ”a própria arte musical|( e outras artes) sofreu um abalo fabricado pelo capitalismo.
Tirou-se, anulou-se sua função social( erudita e ouso dizer até da popular!)
Portanto, seja numa revistinha qualquer com cifragens, ou uma aula na internet, é claramente visível que em muitos casos é a FÔRMA e não a ”FORMA com seu conteúdo que importa.
E isso é muitíssimo semelhante com o ”jogar fora o Bona” justamente pela previsibilidade musical ensinada.
Então dá na mesma!
Dessa maneira,”jogando-o fora”, estará também, contido nesse ato, outras questões musicais históricas.
Devemos ”jogar” fora o Canto Litúrgico? Machaut? Debussy? Satie? Beethoven também?
Devemos considerar, que o Paschoal Bona em seu tempo estava mais próximo das obras desses autores e de muitos outros, de maneira ”viva”.
Podia-se esperar que alguém viajasse quilômetros pra ouvir uma música interessante…mas nem a um quarteirão, vamos à pé para prestigiarmos a obra de um músico nosso amigo.
Talvez nem mesmo nós mesmos fossemos ouvir nossa própria obra!
Há uma música tão nova assim hoje em dia?
Mozart, sabendo que seus contemporâneos queriam escutar o ”previsível” fazia a execução de outro jeito a ponto de saírem alguns com dor de cabeça!
Não se joga fora, faz-se de outro jeito, como fez Mozart.
Está tudo tão novo e musical hoje em dia?
Schoemberg nunca jogou nada fora, aprendeu com todos, porque nada é tão ”velho” assim que não se possa aprender com ele.
O argumento do ”jogue fora” é de que não é mais de nosso tempo.
Nossos métodos são mais eficazes e por essa razão o ”antigo” deve ser tratado como ”velho” sem que ninguém o revigore com uma ”semântica nova?”
Concordo que tanta coisa é ainda muito usada, desgastada e que não tem o mesmo brilho, mas também observo tanta coisa sem criatividade dizendo-se ser da arte, mas nenhum pouco artística.
A questão não é usar até o osso e esperar que não valha mais.
A questão é que do momento em que esse tipo de posicionamento é lançado, nele mesmo já está encrustrada a falta de função musical e consequentemente educacional de nosso tempo.
No tempo de Bach não se discutia isso… se fazia música e tinha função social… Mas o próprio Bach era tratado como antiquado até que Mendelssohn o trouxesse à luz…
Bach é antiquado? A cada momento que o estudo é motivo de espanto estético, no excelente sentido da palavra.
Não digo que vou de agora em diante compor com sonoridade e gestos musicais Bachianos, ou criar à La Bona porque sou um músico contemporâneo e precisamos de maneiras contemporâneas, que é ”como conseguimos ouvir”.
O Bona( Paschoal) nasceu em 1806 e acredito que ”o cara” não era sem conhecimento de tudo isso que citei, e muito mais…
Jogar fora um contexto histórico…e ao mesmo tempo querer aprender música ”sem passado” é impossível!
O fato é que não é necessário ”queimar” tudo, mas “fazer-se” novo.
Acontece que mesmo hoje em dia, escutamos o ”velho” o tempo todo, e isso não é responsabilidade do ”Paschoal”.
É do ”Capital”.
Mylson Joazeiro, tudo bem?
Interessante. Vou refletir sobre estas suas questões.
Um forte abraço.
Tudo bem e você Eduardo Frois?
Achei legal que se preocupe em responder aos questionamentos, e que é aberto ao diálogo…
Por favor, será muito bom.
Sempre aprendemos dialogando.
Sou guitarrista e compositor há muitos anos… e me preocupo muito com a função social que nossa arte perdeu.
Perdeu tanto, que a fazemos para nós mesmos.
Sou professor também e o diálogo aberto e intencionalmente frutífero é importante.
Obrigado pela oportunidade.
Abraço fraterno
Olá, Mylson, tudo bem?
Foram algumas coisas que eu aprendi com o mestre Paulo Freire sobre o que é Educação:
1 – nós somos seres incompletos, portanto precisamos do outro para nos fazermos mais humanos.
2 – se no processo de ensino-aprendizagem o professor não aprender com o seu aluno, então não houve aprendizagem.
Tento seguir estes preceitos na minha vida, caso contrário, qual seria o sentido de tudo, do relacionamento com o outro e com o mundo? Só assim podemos transformar e modificar o universo que está em nosso redor. Mas se eu não começar a transformação por mim mesmo, do que me vale transformar o outro?
Obrigado por suas palavras, um forte abraço!
Obrigado
Caro amigo e professor. Acho exagerada, sua expressão: “Jogue fora seu P. Bona” !!! Afirmar que ele é ou continua ineficiente…tbem é exagero. Pois, vc mesmo (embora mais jovem q eu) não o utilizou? Não obteve nenhum sucesso nos estudos através dele? Como foi colocado aqui anteriormente, qual foi sua experiência com o método? Além do solfejo? Falaram em claves, armadura de claves,tonalidades,ornamentos,…vc realizou o solfejos somente na clave indicada? Ou também o fez em outras claves? Por exemplo clave de fá ou dó 4a linha…? Percebe a “gama” de possibilidades? Defendo sim, o aprimoramento e atualização de nossa pedagogia e metodologia…sim é verdade. Muita coisa mudou e mudará. Porém as sete notas continuam as mesmas, os 12 sons continuam os mesmos…”não podemos cuspir” no prato em q já comemos algum dia e no qual “matamos nossa fome” !!! Sou Educador Musical há 30 anos e possuo Licenciatura na área. A ponderação sempre nos é aconselhada e sempre nos trará resultados. O que percebo, desculpa, é que o professor, se alinha ou deseja se alinhar ao “mercado” atual. E muita das vezes pra não perdermos o aluno,…Pois o que pravelece hj, é o imediatismo…a ansiedade (haja pandemia rsrs). O aluno começa hj e amanhã deverá estar tocando !!! Mas cá pra nós “tocando” o que? De que jeito? Será mais um “papagaio” formado. Grande abraço meu amigo e sucesso.
Olá, Elias, tudo bem?
Apesar das respostas as maiorias de suas perguntas seja sim, como: “não o utilizou? (sim utilizei o Bona, e ainda tenho em casa, não joguei fora kkkkkk. foi um presente do meu pai) Não obteve nenhum sucesso nos estudos através dele? (sim, tive resultado, mas foi chato pacas!) Como foi colocado aqui anteriormente, qual foi sua experiência com o método? (chato pacas! Mais tarde eu aprendi as mesmas coisas que o Bona de um jeito mais divertido e menos sofrido) Além do solfejo? Falaram em claves, armadura de claves,tonalidades,ornamentos,…vc realizou o solfejos somente na clave indicada? Ou também o fez em outras claves? Por exemplo clave de fá ou dó 4a linha…? Percebe a “gama” de possibilidades? (sim pra todas estas perguntas, kkkk).
Mesmo assim, ainda vejo que o método é ultrapassado e dizer isso não é desrespeito a ninguém.
Sei que muitos vão usar o método, não vou mudar isso e nem quero. O que proponho é uma reflexão saudável e chamar a atenção a uma nova forma de pensar a educação musical. E isso não é estar de acordo com o mercado e ao imediatismo, mas estar antenado aos que os psicopedagogos e especialistas da educação estão dizendo sobre ensino aprendizado.
Obrigado pela contribuição!
Um forte abraço.
Compartilho com a visão do Roberto pois sou Educador Musical a 40 anos, graduado, especialista em Música e Musicalidade, Mestre em ensino e sempre utilizei o Bons tanto quanto Pozzolli e meus alunos amaram tanto, que muitos optaram por fazer uma faculdade de música, inclusive meu filho mais novo. Você pode utilizar qualquer método e ser bem sucedido, se, baseado em muito estudo e pesquisa, com o olhar e o ouvido atento aos movimentos na sala de aula, aos desafios propostos e a curiosidade de cada cada aluno. Sem, jamais abandonar a ética de desmerecer qualquer trabalho, principalmente os pioneiros. Se eu me considero um bom músico, um bom educador musical é porque meus professores me apresentaram o BONA e seus estudos e métodos.
Olá, Francisco.
Aqui na sua fala uma coisa muito bonita me chamou atenção: “Você pode utilizar qualquer método e ser bem sucedido, se, baseado em muito estudo e pesquisa, com o olhar e o ouvido atento aos movimentos na sala de aula, aos desafios propostos e a curiosidade de cada cada aluno.”
Aqui é onde mora um bom professor de música ou seja lá o que for.
Muito obrigado por sua contribuição.
Um forte abraço.