Bandas e Fanfarras: Responsabilidades, Deveres e Atitudes do Regente

Texto escrito por Beto Barros

Publicado na Revista Weril n.º 146

Esta matéria, em virtude da grande quantidade de detalhes envolvidos na produção de um único som, necessitaria de um livro para uma pormenorizada descrição dos assuntos; considere, então, uma composição musical inteira, e ainda de caráter orquestral! Vamos, portanto, tentar resumir ao máximo, adotando uma abordagem dos aspectos básicos principais e do desenvolvimento das habilidades específicas concernentes aos músicos e aos regentes.

Assim que a música estiver selecionada, (adequada para o seu grupo) o regente deverá se ater a duas atitudes básicas: (1) preparação da grade (score) e das partes individuais (2) ensaio e performance.

  1. Preparação do score e das partes individuais

O regente deverá primeiro anotar as características principais da composição, tais como, forma, andamento, tonalidades, agógica, estilo, elementos de expressividades, dinâmica, coda, contraponto, backgrouds, riffs, solos, soli, pontos de dificuldades específicos, etc, para depois definir uma concepção ideal adequada às capacidades dos seus músicos, (fazer algumas adaptações, se for o caso) e montar um planejamento geral para realizar esta concepção nos ensaios.

  1. Ensaio e performance

Na hora de dar vida à composição, o regente deve ater-se aos problemas de afinação, sonoridade, timbragem (blend), fraseado e articulações, estilo, agógica, precisão rítmica, dinâmica, equilíbrio, estética, etc, e, por fim, caminhar para conseguir a concepção imaginada usando o seguinte método: tocar, escutar, comparar, diagnosticar, prescrever medidas corretivas e iniciar novamente a corrente de escutar, comparar, diagnosticar e prescrever, aprimorando cada vez mais até chegar ao resultado desejado.

Dicas e Técnicas de Ensaio

  1. Mantenha todas as cadeiras, praticáveis e outros equipamentos nos lugares antes de iniciar o ensaio.
  2. Planeje para que, se possível, nenhum assunto que não seja referente aos aspectos musicais sejam abordados. Durante o ensaio, o ideal é usar cada minuto para tratar de assuntos musicais.
  3. Sempre que possível, adiante as partes individuais antes do ensaio. Mesmo que os músicos não tenham muito tempo para prática individual, isto será muito benéfico.
  4. No planejamento da seqüência das peças a serem ensaiadas, considere a possibilidade de variações, respeitando a resistência dos músicos (especialmente os metais), mantendo também o entusiasmo do grupo, caminhando assim para a finalização do ensaio de uma maneira positiva e musical, fazendo com que os músicos deixem o ensaio em clima de confiança, prazer e contentamento. Mantenha o bom humor durante todo o ensaio, mas com firmeza! Não permita que vire bagunça, gerando desconcentração(uma piadinha ou outra é bem vinda, porém (sem perder o foco).
  5. Use um quadro negro ou algum outro método para dispor os títulos das peças a serem ensaiadas e para adicionar explicações técnicas e explanações das dificuldades. Lembre-se: um maestro que trabalha com grupo de jovens deve ser ao mesmo tempo educador e professor. O ideal é ter pelo menos um dos ensaios da semana acoplado a um curso musical, fazendo com que os aspectos que não estão indo muito bem nos ensaios, possam ser abordados com mais calma e trabalhado com técnicas específicas, para a real compreensão dos problemas.
  6. Se os músicos atrasarem-se para o ensaio, não espere. Comece no horário, trabalhe com os que estiverem no local. Exija pontualidade e termine o ensaio no horário.
  7. Se possível, grave cada ensaio, os estudos dos tapes gravados serão muito úteis no futuro, pois permitem aos músicos escutarem o que foi tocado para que possam se conscientizar dos seus próprios erros e procurar corrigir no próximo ensaio.
  8. A partir de um certo momento, comece a levar os ensaios para a performance final. Não interrompa muitas vezes, toque D.C. ao final e analise os pontos que devem ser melhorados. Anote estas pautas e faça ensaios de naipes.
  9. Permita um intervalo de 10 ou 15 minutos em ensaios de duas horas ou mais. 5 minutos de intervalo num ensaio de 1 hora e meia será adequado. Em ensaio de 40 a 75 minutos, um pequeno intervalo entre cada peça é normal.
  10. Planeje conseguir muitos avanços nos ensaios, trabalhe duro para isto, mas esteja preparado, porque o grupo normalmente consegue menos do que o desejado. Saiba tirar o máximo proveito dos ensaios, mostre aos músicos que a questão da perfeição será conseguida com a cooperação de todos e que cada músico deve ser um parceiro do maestro no sentido de conseguir os objetivos. Mesmo quando as coisas não vão bem, procure terminar o ensaio pontualmente e em alto astral.
  11. Quando fizer a leitura de uma nova peça musical, o ideal é que as partes individuais já tenham sido entregues aos músicos com certa antecedência. Caso não tenha sido possível, inicie a leitura a primeira vista, guiando os músicos a darem uma olhada geral na partitura, ressaltando as tonalidades, mudanças de tempo, notando os temas A-B-C-D etc. coda, D.C, locais de dificuldades instrumentais, uníssonos, soli, solo, etc. Faça em seguida uma leitura D.C. ao fim, antes de começar a trabalhar os detalhes.
  12. Batalhe para que cada músico aceite e pense em termos de conjunto. Estar atento, escutar a si mesmo e aos outros; conhecer bem o seu papel dentro da composição a ser tocada; evitar o ego! Este é contraproducente, faz com que o músico fique insensível, toque alto demais e desafinado, só escutando a si mesmo e promovendo inveja, ciúmes, racismo, rivalidade, etc.
  13. Encoraje os músicos a memorizarem as peças o máximo possível durante os ensaios, mesmo que elas estejam na estante durante a performance. Lembre-se também que é na hora da performance que todo o trabalho irá transparecer, portanto, mantenha os músicos relaxados, mas focados na atuação; ou seja, sem tensão, mas concentrados.
  14. Quando tiver que designar um novo começo após uma parada, dê uma posição precisa do ponto a ser iniciado, tal como “quatro compassos após A”, começando no terceiro tempo, ou “dois compassos antes do B”, ou ainda, “nove compassos antes de C”, etc, e assim por diante.
  15. Após uma interrupção, por exemplo, uma explicação técnica, vá direto ao ponto de forma precisa e concisa. Muita conversa por parte do regente é um dos mais freqüentes impedimentos de se chegar ao bom resultado musical.
  16. Cuidado com o hábito de cantarolar junto com os instrumentos. Isto poderá impedir que você escute a execução adequadamente.
  17. Sempre que possível, chame a atenção dos músicos sobre os aspectos de conteúdo espiritual das composições, assim como forma, gênero, estilo, etc, porém sem ser prolixo demais. O tempo dos ensaios é sempre escasso e deve ser bem aproveitado. O ideal é desenvolver um curso com o grupo, em que estas questões poderão ser abordadas num dia diferente dos dias de ensaio.
  18. Encoraje os músicos a serem mais ousados do que temerosos em sua performance. Eles não devem ficar preocupados em cometer erros. Uma abordagem muito cautelosa fará com que eles progridam menos do que se errassem estrondosamente.
  19. Fique atento quando os sinais de cansaço e aborrecimento começarem a aparecer. Esteja preparado para alterar os planos do ensaio quando isto acontecer.
  20. Insista sempre em obter um som afinado, bonito e com postura. Lembre-se: em uma banda desafinada, nada vai bem!
  21. Não ensaie uma passagem várias vezes, quando o objetivo da atenção é um compasso ou dois dentro da passagem. Às vezes, é preferível adiar o problema para ser resolvido com calma, nos ensaios específicos de naipes. Eleja chefes de naipes para fazê-lo, num horário fora do ensaio normal.
  22. Principalmente quando trabalhar com bandas muito jovens (infantis e juvenis), fique bem atento com o moral dos integrantes. Não imprima uma quantidade de críticas que eles não poderão suportar. Lembre-se, por serem ainda muito jovens, eles têm realmente vários tipos de problemas, ou seja, além dos aspectos técnicos, também os psicológicos, pessoais e outros, portanto, saiba que é mesmo muito difícil fazer uma banda jovem tocar com maturidade técnica e artística. Como já disse, o maestro deve ser um educador e ensiná-los como fazer.
  23. Durante os ensaios gerais, evite trabalhar muito somente com um naipe, enquanto os outros ficam inativos.
  24. No instante que você sentir que os músicos não estão respondendo à sua regência como deveriam, tome ações corretivas. Não ensaie somente para a próxima performance, mantenha uma filosofia cultural com o grupo. Reúna-os para fazer audições de grandes bandas e orquestras, estabelecendo um padrão de qualidade artística. Ouça a Sinfônica de Nova York, Brahms, Strawinsky, Ravel, Debussy, Shoemberg, Count Basie, muito jazz, etc, etc, etc. Faça comentários, colha opiniões entre os integrantes, analise, promova o desejo da excelência em música sempre que possível.
  25. No último ensaio que precede a performance é sempre aconselhável encerrar com o arranjo que estiver mais bem preparado e soando melhor. Toque D.C. ao fim! Isto irá gerar um clima de confiança entre os integrantes, este mesmo arranjo deverá começar a apresentação. Lembre-se de que começar bem é sempre um bom começo.
  26. A sua psicologia com relação aos integrantes da banda é, às vezes, mais importante do que as suas habilidades e competência musical. Trabalhar com banda de estudantes exige do regente a habilidade de ser ao mesmo tempo professor e educador. Portanto:
    1. Cuidado com o tom de voz nas críticas. Seja firme, mas com brandura, carinho e bom humor.
    2. Críticas de caráter mais pesado a um elemento individual não deve ser feito na presença da corporação, procure resolver os problemas em particular.
    3. A realização dos aspectos musicais exige uma disciplina comportamental. Não deixe que todo mundo fale ao mesmo tempo. É muito comum após o ensaio de uma passagem difícil, que o maestro queira comentar uma série de correções, mas a tendência da banda é tentar tocar novamente os trechos da passagem que eles não conseguiram tocar, gerando assim uma balbúrdia sonora, muita confusão e uma enorme perda de tempo. Não permita isto! Crie o hábito de quando um integrante quiser falar, que levante a mão e aguarde o critério do maestro para ser atendido.
    4. Procure criar um clima de cooperatividade entre os integrantes da banda. Seja sempre amigo de todos, dê o bom exemplo de conduta, reforce toda boa ação e execução musical de todos os integrantes da corporação. Isto vale ouro!
    5. Para finalizar, use sempre palavras de encorajamento. Termine o ensaio em alto astral, se possível tenha à mão uma lista de atitudes e providências a serem desenvolvidas no próximo ensaio, bem como repertório e trechos de dificuldades que serão abordados. Isto faz com que os integrantes cheguem preparados para enfocar os assuntos em pauta.

*Beto Barros dirige sua própria empresa de produções artísticas e culturais.

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