As funções dos acordes na harmonia

Uma definição sobre diz que é composta por melodia, ritmo e harmonia. A melodia é a sucessão de notas, num movimento horizontal, criando sentidos e significados a partir de combinações de sons únicos e cronológicos. O ritmo é a duração cronológica desses sons, também criando sentidos e significados, combinando-se em padrões e clichês reconhecíveis. A harmonia, na sua maravilhosa complexidade, combina a simultaneidade de variados sons (notas) engrenada por outras massas de sonoras, evidenciando ou ocultando melodias internas, destacados por pulsos e ritmos, servindo de base a uma melodia principal e imputando a ela uma carga de amplos sentidos. A harmonia conta uma história e é sobre esta história que quero tratar neste texto.

Mas antes de te contar a história que a harmonia conta, tenho que lançar mão de alguns conceitos que vão elucidar o enredo harmônico.

COMO NASCEU A HARMONIA

Antes, tudo era só melodia. Digo isso num contexto musical europeu, da Idade Média, que se passou desde a queda do Império Romano em 476 d.C. até 1450, mais ou menos. Primeiramente, a Igreja baniu todos os instrumentos musicais dos seus templos e elevou a voz humana a status celestial. Logo, tudo era só melodia. Ao longo desses anos, significativas inovações foram transformando esta música melódica em massas sonoras e harmônicas, culminando na música de Bach, no século XVII. Aqui nasceu o acorde que conhecemos e a noção de harmonia que nós temos até hoje. Posso resumir esse parágrafo inteiro numa única e simples frase: a escala melódica se harmonizou. Mas isso não teria graça.

CONTANDO A HISTÓRIA QUE A HARMONIA CONTA

A “transformação” da melodia em harmonia foi dura e exaustiva. A escala diatônica maior (escolhida pela igreja como a sua favorita) é cheia de pontos de tensão que precisavam ser resolvidas. Há um intervalo, no interior dessa escala, de 4ª aumentada que a demonizava, o intervalo foi proibido e ganhou o nome de Acorde do diabo. São as notas Fá e Si na escala de Dó Maior.

A tensão gerada por estas duas notas tinha de ser resolvida. Uma solução inteligente foi torná-la notas de passagem para serem resolvidas em um som angelical. O triunfo do Céu contra o Inferno. Aqui nasceram as duas principais funções harmônicas dos acordes musicais: um acorde que cria tensão e outro que pede um repouso. Se pensarmos numa sequência de acordes que estamos acostumando, seria isso:

| G | C || ou | G7 | C ||

Os acordes de G ou G7 (aqui mais evidente) criam uma tensão que é resolvida pelo C, o tom da música.

O mais interessante é que, nos séculos seguintes da consolidação do acorde, (séc. XVII até o final do sec XIX) sinfonias inteiras foram escritas baseado neste jogo de “gato e rato” (tensão e repouso). No sec XX, esse preceito foi deixado de lado pela música erudita, mas permaneceu até os dias de hoje na música popular.

Para concluir, todas as vezes que você ouvir a palavra harmonia, principalmente se for relacionada à música, pense que o seu significado não é tudo belo e maravilhoso, mas sim, que gato TOM sempre quer pegar o rato JERRY.
É essa, então, a história que a harmonia quer contar.

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