As mais diversas manifestações e expressões culturais das mais diferentes nações, raças e credos que constitui o povo brasileiro convergiram à uma riqueza caleidoscópica, facetada e multicultural. No entanto, as desigualdades sociais contribuíram para um consumo cultural injusto, baseado nas diferenças de classes e raças. É o que aponta a pesquisa do site TAB.UOL, escrita por Tiago Dias.
Leia o texto na íntegra logo abaixo.
“A desigualdade racial no país traz ecos na hora quando o brasileiro consome cultura. Enquanto brancos acessam mais cinemas, museus e teatros, os negros vão mais a shows de música e espetáculos de dança. É o que mostra o levantamento feito pela consultoria J.Leiva, com mais de 10 mil pessoas em 12 capitais de todas as regiões do país.
O estudo também mostrou que o nível de escolaridade tem peso significativo no comportamento. Quem é da classe C e cursou universidade vai mais a atividades culturais do que os da classe A e B com ensino médio.
Apesar disso, o antropólogo Hélio Menezes afirma que renda e escolaridade são questões indissociáveis. “Nos últimos anos, vimos um crescimento da renda da população negra e o crescimento igualmente vertiginoso de pessoas negras nas universidades”, observa.
A pesquisa seguiu a metodologia adotada pelo IBGE, segundo a qual o próprio entrevistado declara sua cor. Sendo assim, a maioria dos entrevistados se declarou de cor parda (45%), enquanto os pretos foram 19%.
A maior diferença em favor de pretos e pardos ocorre em eventos de dança, festas populares, shows de música, blocos de carnaval e saraus – não à toa, manifestações comumente associadas à identidade étnica e com maior facilidade de produção e acesso. Enquanto isso, os museus e teatros ainda são vistos como atividades caras e marcadamente mais elitistas. “São espaços que inibem muitas vezes a presença de pessoas negras porque são espaços marcados por uma lógica de racismo”, explica o antropólogo.
Ainda assim, em todas as categorias os pretos se interessam mais por fazer cursos culturais do que brancos, com maior destaque para música (pretos 37%, brancos 26%).
A oferta de equipamentos culturais também deve ser levada em consideração, em especial em espaços periféricos. Dentro da pesquisa, feita apenas nas capitais, já há diferenças gritantes. Enquanto São Paulo tem 54 bibliotecas públicas, São Luís tem apenas uma.
“[Devemos] aproveitar a potencialidade que as atividades gratuitas têm de atrair um público brasileiro que não tem colocado a cultura como prioridade em seus gastos e, nesse espaço, realizar debates sociais que são importantes para nosso país”, observa Menezes.“