165 Conselhos de David Russell – parte 7 – Mão Direita

011.3. Mão Direita

1.3.1. Arpejos. Acordes arpejados.

  1. O terceiro ou quarto acorde de um grupo, se tiver a função de resolução, pode ser interpretado arpejado (em contraste com os anteriores), mais forte e um pouco atrasado.
  1. Nos arpejos, evitar que o braço direito se movimente traçando um percurso ao longo das cordas (de trajetória circular, tendo o cotovelo como centro).
  1. É melhor tocar os acordes arpejados onde estiver a instabilidade tonal (dominante, acordes dissonantes). Em outros casos, os acordes de resolução da tensão podem soar melhor “plaquê” e piano.
  1. Ao encontrarmos um arpejo longo (mais ou menos duas oitavas) que termina em uma nota no registro sobreagudo: apoiar a nota final e vibrá-la um pouco.
  1. Se vamos tocar vários acordes arpejados consecutivos: não arpejar todos com a mesma velocidade.
  1. Para que uma progressão de acordes fique mais fluente e fácil: afrouxar um pouco o andamento e arpejar com rubato o acorde anterior à progressão.

1.3.2 Braço direito

  1. Evitar o movimento do braço tendo o cotovelo como eixo, (ver 51) num plano paralelo a caixa, para realizar arpejos ou escalas (no geral, para deslocamentos do grave ao agudo, ou vice-versa). A mão tem de posicionar-se numa posição que permita o fácil acesso dos dedos a todas as cordas sem movimentação do braço.
  1. Evitar manias gestuais da mão e do braço direto, que não acrescentam nada musicalmente e tecnicamente deslocam a posição do braço.

1.3.3 Ataque dos dedos i-m-a

  1. Solto (“puxando”) é o ataque normal, mas não puxando para fora nem

paralelamente a caixa, mas sim apertando um pouco a corda em direção ao tampo.

  1. Apoiando ou puxando? O importante é buscar uma postura de mão que nos permita ter facilidade em ambos os ataques, e dar homogeneidade para ambos, de maneira que não exista uma diferença qualitativa (contraste tímbrico), mas apenas uma diferença quantitativa (de maior volume e plenitude sonora no ataque com apoio).
  1. Também é preciso uma postura de mão que nos permita apoiar um dedo enquanto ficamos com os outros livres para o toque sem apoio.
  1. O dedo anular ataca a corda, além do movimento normal (para a palma da mão), de uma forma muito leve, quase imperceptível, ele gira em sentido horário, ou seja, tendendo a virar ligeiramente a polpa para o dedo médio.
  1. O ruído da unha se produz porque o dedo atravessa a corda mais lentamente que o devido. É necessário atacar a corda com um só golpe, o mais rápido possível. É uma questão de velocidade, para evitar o ruído do atrito com a unha, mas não é uma questão de força. Deve se dominar esta alta velocidade de passagem pela corda, mesmo aplicando muita ou pouca força.
  1. Para as cordas revestidas: procurar um ataque de “menor ângulo”, isto é, ataque perpendicular, para não “roçar” a corda.
  1. Para escalas rápidas nos bordões, é muito boa a digitação p – i.
  1. Nos ligados de duas notas ou movimentação simultânea e repetida de dois dedos (por exemplo: i-m), manter a mesma distância de separação entre os dedos.
  1. Tentar a digitação p-m-a, em vez de p-i-m, se a intenção é destacar a nota intermediária.
  1. Para destacar o baixo numa nota dobrada nas cordas 5 e 6: tocar o bordão com o indicador e a quinta corda com o polegar, cruzando os dedos.

N.T. Neste caso considera-se que a voz do baixo esteja na quinta corda. O polegar se posicionará à frente do indicador, resultando no destaque da quinta corda e num efeito muito bonito.

1.3.4 Polegar

  1. Antes do toque, manter fixa (mas não esticada) a última falange do polegar para o toque com unha.
  1. O polegar apoiado é quase um luxo. Não podemos empregá-lo constantemente porque nos desloca a posição da mão, por isso é preciso selecionar cuidadosamente os toques que queremos dar com esse ataque.
  1. Uma vez emitida a nota, pode se dobrar a última falange, pois não afetará o som.
  1. Pode levantar-se um pouco mais o pulso para dar mais mobilidade ao polegar, de maneira que não seja uma extensão do braço, mas sim um dedo independente, como os demais.
  1. Para apagar baixos com o polegar, o pulso tem que estar baixo, mas uma vez apagados, voltar imediatamente a posição natural.

1.3.5. Volume

  1. Dividir e dosar bem o volume: é preciso planejar a distribuição do volume por todo o movimento ou pela peça inteira.
  1. Acentuar notas com qualidade e pureza de som, é mais que simplesmente aumentar o volume.
  1. Se na voz soprano, após um forte vier um pianíssimo: atacar com ângulo menor, buscando um som mais claro e pungente, pois se buscarmos um som mais redondo, no pianíssimo não se ouvirá nada.
  1. Se tivermos que acentuar um acorde final (não arpejado) de uma frase que já está em forte: atrasar um pouco seu ataque, pois o silêncio criará uma expectativa que servirá para acentuar ainda mais sua aparição.
  1. Se o objetivo é dar mais força para a nota, procure alongar a movimentação do dedo, mas sem mover a mão. A trajetória do dedo deve empurrar a corda para dentro.
  1. Quando há uma nota “tenuto” na voz soprano e duas notas intermediárias simultâneas (i,m) como acompanhamento em semicolcheias repetidas, deixar que essas duas notas sejam como um eco da soprano, sumindo gradualmente.
  1. Em música a duas vozes, quando há um pianíssimo na voz superior e no baixo há um fortíssimo súbito, pisar a nota e já ir preparando seu ataque um pouco antes de tocá-la, para evitar o “efeito pinça” (as duas vozes em forte).
  1. Na música barroca, mesmo que existam os crescendo e diminuendos, o mais adequado é pensar em termos de diferentes planos sonoros de volume, com alguma autonomia entre si.

1.3.6. Timbre

  1. O que efetivamente produz o som é o último contato do fim da unha com a corda, ou seja, a saída da corda.
  1. Ao se fazer um desenho ruim e colorir com tons berrantes, o resultado será um desastre. É preciso fazer um desenho bonito (frasear corretamente) e se puder colorir com alguma cor ou nuance (recurso tímbrico) que seja tão sutil que quase não a percebamos, ficará melhor ainda. Deve-se evitar cometer o erro de estragar um bom desenho com cores exageradas (efeitos tímbricos mal trabalhados ou descuidados).
  1. Para conseguir tais “cores sutis”, melhor do que ficar buscando ícones entre os violonistas, podemos consegui-las, escutando com atenção, em boas obras orquestrais.
  1. Para os bordões nas posições I e IV, ao se deslocar a mão para um pouco mais perto do cavalete, obtemos de fato um timbre um pouco mais metálico, porém mais eficiente.

N.T. Embora mesmo no original não fique claro o que se diz por eficiência, neste caso creio que ele se refira ao contraste tímbrico em relação às primas.

  1. Quando forem feitas mudanças de timbre, é preciso deixar clara a intenção, pois caso contrário, podem parecer erros de falta de uniformidade sonora, devido a insuficiência técnica.
  1. Se quisermos aparentar uma velocidade maior que a que estamos tocando, articular um pouco staccato.
  1. Nas cordas soltas ou nas primeiras posições é mais adequado uma sonoridade mais aberta (ângulo menor), para as posições posteriores é mais adequado uma sonoridade mais fechada (mais arredondada, ângulo menor).
  1. Ao nos depararmos com uma melodia em harmônicos artificiais sendo acompanhada por notas normais, nunca devemos cortar as notas da melodia. Devemos buscar as digitações que nos permitam fazer o acompanhamento em outras cordas, sem jamais cortar a melodia.
  1. Harmônicos artificiais em cordas revestidas: usando o polegar, obteremos uma nota mais limpa.
  1. Aquinta corda, em sua região aguda, não costuma soar muito bem em nenhum violão. Se isto ficar muito evidente, o melhor é tentar outra digitação, que a evite em tal sonoridade.
  1. É necessário investigar a sonoridade de cada nota do nosso violão, para termos consciência de quais são as melhores e as piores notas que nosso violão oferece. Assim poderemos evitar ou aproveitar cada nota, sempre que nos seja possível.
  1. Paradoxalmente, os bons violões costumam acentuar os defeitos típicos de todos os violões, pois também são muito mais sensíveis para isso.

1.3.7. Tremolo

  1. Um bom tremolo precisa de um bom anular, pois ele costuma ter menor coordenação, por ser a unha mais comprida e um dedo mais lento na maioria das pessoas.
  1. Para se estudar o tremolo com metrônomo, é aconselhável acentuar um dedo de cada vez durante alguns minutos, para assim nos sentirmos em condições de tocar equilibradamente.
  1. Para ligar o tremolo com o que vier em seguida, podemos ou manter o ritmo ou fazer um ritardando exagerado nas últimas notas do tremolo. Em seguida, começar “a tempo” a frase normal, deixando bem claro que começamos outro trecho.

1.3.8. Trinado

  1. O trinado tem que soar mais, não menos, pois é um destaque e um fator de tensão. Costuma dar um bom resultado fazer um crescendo dentro do trinado, começando devagar e acelerando até o final.
  1. Existem várias formas de obter um trinado que permita o que foi dito no ponto anterior. Pessoalmente, o trinado em duas cordas me parece muito satisfatório. Pode fazer-se:
  • Com “p-i”, como os alaudistas, ou
  • Com “a-i-m-p”.
  1. Para praticar o trinado a que nos referimos em “b”, pode praticar-se simultaneamente “p-a” e “i-m”, e assim sucessivamente, até obtermos uma integração de continuidade sonora em ambos os grupos.

1.4. Coordenação entre as mãos

  1. Quando se toca forte é preciso ter atenção para não se apertar mais que o necessário com a mão esquerda.
  1. Amaioria das pessoas que tocam involuntariamente com uma sonoridade “staccato”, assim fazem devido a um problema de coordenação entre as mãos.

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