Métrica e compasso

Quer ver um jeito diferente de ver sobre compassos simples e compostos? Esta é a conversa de 2 amigos sobre métrica e compasso

Veja, eu nunca vi um compasso 9/4…. Porém, se pensarmos no 9/8 então: sendo o 9/8 um composto do 3/4, o pulso métrico ocorrerá a cada 3 colcheias, como se fossem sempre quiálteras.

Agora, o 9/8 um compasso simples de nove pulsações, obviamente o pulso métrico ocorrerá a cada colcheia. Na verdade, a diferença está basicamente na escrita. Pela forma que o compositor organiza os grupos de colcheias, dá para se ter uma ideia do que ele pretende.

Por exemplo, eu gosto, às vezes, de pensar o 9/8 simples como um 4/4 + 1/8, transformando-o em um compasso misto. É claro que cada uma dessas formas de interpretar vai alterar sensivelmente a acentuação métrica, alterando completamente a audição da mesma frase rítmica, como exemplifico abaixo.

Quando eu pude ensinar percepção musical na Escola de Música da UFBA, eu dava muita atenção à escrita rítmica e eu elaborei um exercício parecido com esse, no qual eu escrevia uma divisão rítmica e pedia para os alunos “encaixarem” em fórmulas métricas diferentes, e logo em seguida nós líamos ou executávamos tais exemplos. Em geral dava muita confusão, pois os alunos são muito mal acostumados com fórmulas simples. Isso acaba resultando num distanciamento estético-sonoro entre o que os alunos de graduação em geral ouvem e executam, e o que os compositores compõem. Creio que precisamos dar mais atenção aos compassos “quebrados” e às melodias menos tonais, como uma forma de contextualizarmos nosso ensino de percepção às práticas musicais contemporâneas. Não esqueçamos dos métodos desenvolvidos por Bartok…

Segue abaixo o exercício e em anexo um jogo rítmico escrito no Finale 2004.

A única coisa que posso dizer nessa situação é que depende do contexto. Eu diria, com pouca margem de erro, que até o romantismo, se você encontrar um 9/8 tenha certeza de que é um compasso composto. Mas quando chegamos no século XX, aí a coisa complica, pois a liberdade composicional atinge níveis nunca antes pensados, e a escrita rítmica é uma das coisas que mais complexidade ganhou. Portanto, se você estiver se referindo a uma peça do século XX ou XXI, as coisas mudam de figura. Quanto a compassos mistos e ou alternados, ainda não pensei muito sobre isso não. Sua colocação me fez repensar meu uso dessa nomenclatura, pois, se eu usar “compasso misto” para exemplos como 4/4+1/8, como fica o caso de peças polimétricas como “Unswered Question” de Charles Ives? É, vou repensar. Alguém tem uma solução para isso? (Hugo)

Eu definiria assim:

  1. concordo plenamente com o Hugo: se estivéssemos no século 19 seria um compasso composto (o equivalente compasso simples seria o 3/2)
  2. no século 20 e 21 (como até meu mestre Almeida Prado comentava): “Não me preocupo mais com compasso simples ou composto, fico fascinado por compasso de seis, nove e doze tempos… Isto abre uma gigantesca possibilidade rítmica…”
  3. compasso misto e compasso alternado: onde vocês viram esta termimologia? – pois quero ter a referência bibliográfica/musical (obrigado !)
  4. quando dei aulas sobre a métrica do século 20, comentava assim:
    • bimetria ou polimetria: quando 2 instrumentos caminham simultâneos com 2 fórmulas de compasso diferentes (há coisas assim em obras de Hindemith, Bartok etc.) – muita gente fala em polirritmia ou métricas cruzadas…
    • métricas combinadas: o exemplo do Hugo 4/4 + 1/8

Há ainda os conceitos de pan-ritmia, métricas fracionadas, multimétrica (ou métricas variáveis)… coisas de Messiaen, Elliott Carter etc. … Isto sem contar o que os africanos, indianos, jazzistas, repentistas etc. inventam de “oreiada” que é impossível de serem grafados!(Edson Tadeu Ortolan)

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