O Homem, sua Experiência e o Mundo

O artigo ”Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Jorge Larrosa Bondía, traduzido por João Wanderley Geraldi, do Departamento de Lingüística da Universidade Estadual de Campinas, publicada em julho de 2001,por Leituras SME; Textos-subsídios ao trabalho pedagógico das unidades da Rede Municipal de Educação de Campinas/FUMEC, começa com a seguinte citação: No combate entre você e o mundo, prefira o mundo. (Franz Kafka).

E é sobre exatamente isso que o texto aborda: o HOMEM, sua EXPERIÊNCIA e o MUNDO sob o ponto de vista da educação. Para iniciar, Bondía, apresenta sua perspectiva sobre educação pelo prisma experiência/sentido. Segundo o autor, Muitos pensadores da educação preferem concebe-la como ciência/técnica ou mesmo teoria/prática.

De fato, somente nesta última perspectiva tem sentido a palavra “reflexão”[…]. Se na primeira alternativa as pessoas que trabalham em educação são concebidas como sujeitos técnicos que aplicam com maior ou menor eficácia as diversas tecnologias pedagógicas produzidas pelos cientistas, na segunda alternativa estas mesmas pessoas aparecem como sujeitos críticos que, armados de distintas estratégias reflexivas, se comprometem, com maior ou menor êxito, com práticas educativas concebidas na maioria das vezes sob uma perspectiva política. Por isso que Bondía prefere pensar a educação como algo experiência/sentido. A partir daqui, ele discorre sua argumentação se valendo de um entrelaçado jogo de palavras, sentidos e significados. Primeiramente, define experiência e o sujeito da experiência, aponta um “esvaziamento existencialista” causado pelo modo de vida moderna e situa a o saber da experiência como relação entre o conhecimento e a vida humana.

Nas palavras de Bondía, a experiência é tudo “o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca” e não ao contrário “o que se passa, o que acontece, ou o que toca”. É a vivência dos acontecimentos, dos fatos, dos sentimentos, é a experimentação, é a prova das coisas, é o viver dos perigos das coisas, é a passagem, é a chegada, é o local onde os acontecimentos acontecem. No entanto, se a pessoa é bem informada não significa que ela seja experiente. A propósito, esta é uma das causas apontadas pelo autor sobre certo “esvaziamento do ser”, fruto de uma manipulação e distorção do modo de vida do mundo moderno. Isto é, informação não significa conhecimento. A informação é fragmentada, efêmera (sobretudo nos dias atuais), insuficiente, a informação só se permite ser processada, e não vivenciada. Da mesma forma, a opinião, a velocidade do mundo e o trabalho.

O ser da experiência é aquele dotado de paixão. Bondía explica:

“Se a experiência é o que nos acontece, e se o sujeito da experiência é um território de passagem, então a experiência é uma paixão. […] pois, há na paixão um assumir os padecimentos, como um viver, ou experimentar, ou suportar, ou aceitar, ou assumir o padecer que não tem nada que ver com a mera passividade, como se o sujeito passional fizesse algo ao assumir sua paixão”.

Por fim, o saber da experiência, segundo o autor é a relação entre conhecimento e vida humana. “Conhecimento” e “vida”, aqui, dotadas de outras significações, isto é, no sentido de experiência individual, existencial, personalizada, concreta, mesmo coletivamente, um ser singular, único. Sim, mesmo que duas pessoas vivem um acontecimento comum, cada um vivenciará o fato de maneiras diferentes.

O texto é altamente rico de significações. Os argumentos transcendem os conceitos científicos, tratando a experiência, o sujeito da experiência e o saber da experiência de forma holística, integral. Vale comparar algumas semelhanças, em alguns trechos, com passagens bíblicas, principalmente quando o autor discorre sobre o sujeito da experiência e submissão a “paixão”, definida aqui como “experimentar, ou suportar, ou aceitar, ou assumir o padecer que não tem nada que ver com a mera passividade, como se o sujeito passional fizesse algo ao assumir sua paixão.”

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